Nossos cuidados com o Breno começaram quando ele tinha pouco menos de 2 anos;naquele momento a Pediatra percebeu que algumas características do comportamento e desenvolvimento dele precisavam ser avaliadas. Então começamos o processo de investigação e análise junto com Psicólogo, Neuro Pediatra e outros profissionais. Foi um período muito difícil para nós pais, quando surge muitos pensamentos negativos, sentimento de incapacidade e de culpa. Além disso, nós estávamos morando no Rio de Janeiro a 1 ano por motivo de transferência por trabalho, então, a falta de apoio de amigos e família estavam fazendo falta.
Nesse período o Brenonão costumava olhar nos olhos das pessoas, não falava nem emitia sons para comunicação, não respondia nossos chamados, tinha muito pouca interação com as pessoas, gostava de brinquedos com movimentos repetitivos ou coisas que giravam e tinha um comportamento discreto e calmo. As pessoas costumavam dizer que era uma criança ótima, pois não incomodava em nada, era bastante tranquilo e bastava um desenho com música na TV para ele ficar assistindo tranquilo.
Começamos algumas intervenções com foco na fala e interação dele. Iniciamos com as sessões de Fonoaudiologia e matriculamos o Breno em uma creche regular, para começar a imersão com outras crianças e assim, incentivar sua interação. No início ele não gostava muito dos contatos com colegas e barulho incomodava, mas com o tempo foi acostumando com a presença dos colegas e o ambiente. Após 6 meses, a Neuropediatra e Psicóloga fizeram uma nova avaliação e nos fizeram entender que o Breno apresentava potencial devido a algumas respostas que estavam percebendo, porém, ela disse que nós estávamos iniciando um processo diferenciado de nossa vida com o Breno. Além disso, perceberam que a mãe estava bastante fragilizada com todo aquele cenário, então recomendou nosso retorno para Porto Alegre para voltar ao convívio com nossos amigos e família, ou seja, nossa zona de conforto para manter foco e ações no desenvolvimento do Breno.
Com o retorno ao lar em Porto Alegre, logo iniciamos as ações profissionais para o desenvolvimento do Breno. Iniciamos o acompanhamento com a Dra Maria Sonia Goergen, indicada pelas Neurologista e Psicóloga do Rio de Janeiro. Logo definimos um plano de intervenções com Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e Musicoterapia, sendo que esse último, foi identificado pela Dra Maria Sonia como algo que agradava o Breno e poderia ser uma porta de entrada para despertar a atenção e interação com ele. Além das ações de intervenção, matriculamos o Breno em uma escola de educação infantil regular para manter o ambiente coletivo e de interação com outras crianças.
As ações de intervenção, socialização e acompanhamento deram bons resultados para o Breno, e agora nós pais estávamos mais confiantes e confortáveis. Os resultados foram cada vez aparecendo mais e vários obstáculos foram superados aos poucos. O Breno aceitava bem a escola, o agito e barulho e a presença dos colegas, inclusive aceitando abraços e contato que não fazia antes. Ele passou a iniciar a interação muito sutil através de comandos como “1, 2 3 e já”, sendo que o “já” é falado por ele, porém, nós precisávamos acelerar mais o processo de desenvolvimento e fazer mais, pois ele já estava com quase 4 anos e ainda tinha muito para melhorar, então surgiu o Play Project em 2015.
O desenvolvimento no Play Project consistiu de forma bem simplificada em identificar os níveis de desenvolvimento onde Breno se encontrava para assim, saber quais áreas precisavam ser focadas e receber intervenção utilizando técnicas específicas. A especialista participava da rotina da família por algumas horas, registrava atividades de brincadeira entre os pais e a criança. O resultado então era analisado e discutido com os pais para definir sugestões de ações para trabalhar cada competência, utilizando os sinais que o Breno apresentava e usando a diversão como principal ferramenta de ação. Aí que entra o acrônimo/ “P.L.A.Y.” (também central no termo per se), pois basicamente são utilizadas técnicas com brincadeiras e diversão para estimular e desenvolver o que é necessário.
E como tivemos e temos oportunidade de perceber e vivenciar, trata-se de um processo onde os pais são preparados para observar, avaliar e aplicar as ações naquilo queele precisa no devido nível de desenvolvimento funcional de atividades sem estar nem aquém nem além daquilo que o mantem engajado conosco.
No total de 10 sessões filmadas e analisadas com intervalo 1 mês em cada, nós pudemos nos desenvolver para ajudar no desenvolvimento do Breno. E isso torna-se um processo contínuo e infinito pois para nós, vira uma rotina. Nós poderíamos dizer que aprendemos a “educar” o Breno, de uma forma especial.
Podemos dizer que conseguimos acelerar várias coisas e nós temos uma rotina normal, sem nada especial para o Breno. Hoje continuamos com o acompanhamento profissional das terapeutas e Neuropediatra e a vida segue normal em nossa família.
Nos últimos 6 meses o Breno conseguiu várias conquistas importantes. Faz xixi e cocô no vaso, tira a roupa para o banho, come sozinho e agora aprendeu a subir no banquinho e pegar água direto no purificador de água e toma água no copo. Entende tudo que falamos como avisos e informações (não fica na frente da TV tão próximo, tira o sapato, hora do almoço, vem aqui. Etc....) Ele ainda não fala para pedir as coisas, mas está cantando cada vez mais, e tem falado na lingua dele tipo criança pequena..bla, bla, bla, vrum..... com o uso de todo tipo de sons. De vez em quando ele solta um “Katia”, “Mari” (professora), mamãe e Papai sai bastante, água as vezes e começou com a expressão: “o que é que é isso?”.. .engraçado!!. Brincamos de pega-pega, de se esconder, de cavalinho, pular na cama, balanço e várias outras brincadeiras.Ele está super social e até dá beijos em mulheres que não conhece, só por chegarem perto e está muito alegre e feliz.
Nossa vida familiar hoje está bastante normal e sem restrições sociais pelo Breno. Ele gosta muito de andar de carro, fazer viagens em carro, avião ou ônibus, tudo é motivo de alegria para ele. Não se importa com ambientes barulhentos, multidões ou lugares fechados. Não estranha hotéis diferentes, nem casas diferentes. No ano passado fomos para a Disney em Orlando onde ele aproveitou bastante e nesse ano temos planos de Canada e Estados Unidos novamente. Claro, que sempre fazemos as viagens mais curtas para visita de familiares ou aproveitar outros lugares. Exposição para novidades e descobertas tem sido uma rotina para nós.
Bom, não estamos no fim de nada nem no início.Sabemos que ainda temos várias barreiras para superar com o Breno e também com nós mesmos. Ainda existem gaps para serem preenchidos e a vida segue, monitorando, agindo e nos divertindo.
Nós gostaríamos de registrar um agradecimento especial às profissionais que tem nos ajudado nessa caminhada. Muito obrigado pelo apoio e dedicação, seguiremos juntos.
Maria Sonia Goergen – Neuropediatra
Katia Scherer Beidacki – consultantdo Play Project e Terapeuta Ocupacional
Debora Scherer Fetter – Fonoaudiologa
Irene Marli Bertschinger– Musicoterapeuta.
Pais do Breno
O prazer de iniciar o meu processo de prática com o PLAY PROJECT tendo Breno e sua família como companheiros foi um grande presente.
Principalmente pelo fato de que Breno já estava bem próximo de mim, semanalmente, nas nossas sessões de Terapia Ocupacional.
Quando iniciamos o programa, Breno apresentava um baixo nível de alerta e estava constantemente “preso” em zona de conforto visual, e por isso havia pouca prontidão para engajamento e compartilhamento.
Os pais de Breno, assim como eu,precisávamos encontrar caminhos para mostrar-lhe o prazer que o brincar e a interação podiam trazer. E aprender a” entender e aproveitar os sinais que Breno nos dava” (como sabiamente os pais de Breno falam em seu depoimento).
Breno e sua família cresciam a cada encontro e ao final de nossos 10 vídeos começamos a ver aumentar os círculos de comunicação ,sorriso, diversão e engajamento.
Encerramos com alegria o programa!! Para mim, entre tantos aprendizados com Breno e sua família, o principal foi a importância da presença dos pais no processo de crescimentode seufilho. E do quanto um programa voltado para a real e consistentecapacitação de pais é fundamental e ainda pouco valorizada por nossa comunidade . Enquanto TO não consigo fazê-lo. Enquanto consultant do Programa P.L.A.Y Project vislumbrei e vibrei com esta possibilidade!!
Agradeço imensamente ao Breno e sua família por estes momentos!!
Katia Scherer Beidacki
O olhar à distancia, seja através das janelas da sua casa para o além, nos primeiros vídeos, seja “através do outro” quando Breno “viajava “ para sua zona de conforto, foi-se modificando aos poucos. As fotos ilustram um pouco do que quero dizer pois o sentir é essencial!
Nos vinhedos ilustro o meu dizer com a “busca de padrão organizador”;
No encontro do olhar com o da ovelha vejo a busca para decodificar o outro e a crescer a partir do alicerce, onde, a nível sub-cortical, temos o input sensorial precisando se “ ligar” e planejar o processamento motor onde quem faz a amálgama é o afetivo (vide meu último escrito no blog). E aqui Breno tem intencionalidade na troca do olhar! E compreendam, bem menos complicado trocar informações pelo olhar com a pureza do olhar de um animal afetivo, do que conosco, animais que passamos -muitas vezes pelo olhar- muito mais de questionamentos do que de entregas...ou de trocas... da pra entender?Pois então, somos treinados para inibir sentimentos muito mais do que dividir sentimentos, não e mesmo?
E por fim, a imagem do nosso objetivo inicial, que posicionei intencionalmente no começo, quer seja, a interação com o outro ser humano, aqui na sombra fotográfica dos pais nessa belíssima representação do engajamento familiar quando os pais tendo entendido o que significa “followhis lead” todos tem “funtogether”! Há muita harmonia nessa família. Há muito funtogether! Já houve muita tristeza... agora. Well, agora há esperança, agora há compasso de atingir-se as metas respeitando seu ritmo na aquisição de níveis de funcionalidade.
Inicialmente Breno funcionava precariamente nos níveis de desenvolvimento primitivos e era “suado” para os pais terem-no integrado às atividades propostas. Me faltam palavras para descrever o dançar da māe com ele no colo, mas foi o que me levou a cuidar mais dessa dupla que tanto se buscava sem conseguir se comunicar - e talvez o termo mais adequado seja o dançar dissociado!? Era uma dupla deprimida!
Os meses foram passando e o olhar passou a “falar” em ambos.
E o pai, ah o pai, foi excepcional, pois foi crescendo junto com a dupla, e com seu humor muito especial ele consegue me mobilizar por demais quando encerra-se o ultimo vídeo com ele dançando com Breno em seu colo..... Conseguimos todos dançar juntos: Breno, mae, pai, consultant e supervisora..... (“ a dança dos lobos?”)
Este pai e esta māe nos mostraram que o P.L.A.Y. cumpriu seu papel ao capacitá-los: vinculo, interação, reciprocidade.Eles compreenderam que não basta ensinar o seu filho a galgar os degraus da capacitação cognitiva. Não basta fazer surgir as palavras verbalizadas. Era necessário que seu filho pudesse falar com os olhos (e as fotos, foram escolhas deles, eu apenas as associei ao crescimento do Breno ao longo das 10 sessoes) e transformar dentro de si o caos inicial de não integração.
Muito ainda a caminhar ...., mas felizes com essa base inicial menos caótica, menos dissociada, mais significada, mais representada em seu mundo interno e mais entrelaçável com o mundo externo....
Maria Sonia Goergen, MD
Supervisora do P.l.a.y. - Neuroplaybrasil